Limites ao aumento da dimensão dos navios porta-contentores - Artigo Fernando Cruz Gonçalves (18.04.2024)

Limites ao Aumento da Dimensão dos Navios Porta-Contentores

Artigo Fernando Cruz Gonçalves








https://www.transportesenegocios.pt/limites-ao-aumento-da-dimensao-dos-navios-porta-contentores/

As características e tipologia da frota de navios porta-contentores têm sofrido uma profunda alteração ao longo dos anos.

A característica mais evidente foi o sistemático aumento da dimensão dos navios porta-contentores, numa lógica de potenciar as economias de escala associadas.

Relativamente a esta temática, importa refletir sobre quais os limites ao aumento de dimensão dos navios. Este aspeto é determinante para o dimensionamento futuro de infraestruturas marítimas e portuárias.

 

Maiores Navios Porta-Contentores do Mundo

Em 2024, temos a navegar os navios da Classe MSC Irina, constituída por seis navios, com uma capacidade de carga de 24.346 TEU. São os maiores navios porta-contentores do mundo.

No entanto, a sua base de projeto é praticamente igual aos maiores navios dos operadores marítimos concorrentes. As dimensões são praticamente iguais nos diferentes projetos. O LOA (comprimento fora-a-fora) está estabilizado nos 399,9 metros e a sua boca (largura do navio) oscila entre os 61 e os 61,5 metros.


Os Maiores Navios Porta-Contentores do Mundo


 A diferença na capacidade de carga deve-se, essencialmente, ao rearranjo dos contentores acima da linha de convés, com a criação de áreas adicionais para o seu empilhamento. Estando estas áreas superiores, por razões de estabilidade, destinadas ao empilhamento de contentores vazios, trata-se mais de uma questão comercial do que uma verdadeira alteração da capacidade de carga do navio.

Na prática, trata-se de uma questão mais retórica do que real. Os navios de 24.000 TEU estão a navegar com uma capacidade média de 19.000 TEU, não utilizando a capacidade máxima de carga do navio. Este facto deve-se a limitações comerciais (dificuldade em angariar carga suficiente para potenciar a capacidade de carga máxima do navio) e, essencialmente, a limitações da infraestrutura (calado e bacia de manobra) e superestrutura portuária (equipamentos). Os pórticos atuais têm limitações, quer na sua capacidade de movimentação em altura, quer na sua capacidade transversal de alcançar o 24.º contentor lado-a-lado.

No entanto, o aproveitamento da sua capacidade de carga tem vindo a aumentar. O “ONE Inovation”, partiu, no dia 23 de dezembro de 2023, do porto de Singapura, com 22.000 TEU a bordo, o maior número de contentores alguma vez transportado por um navio.

 

Limites ao Aumento de Dimensão dos Navios Porta-Contentores 

Não existem, tecnicamente, limites ao aumento da dimensão dos navios. Seria possível construir navios de 35.000 TEU, com um calado de 21 metros. Mas estes navios teriam um “comprimento fora-a-fora” superior a 450 metros.

As verdadeiras limitações ao aumento da dimensão dos navios são de natureza comercial e operacional.

Em termos comerciais, torna-se difícil assegurar carga, para garantir os níveis elevados de taxa de ocupação destes navios, para potenciar as economias de escala.

Em termos técnicos e operacionais, são essencialmente de três tipos, as limitações a nível do aumento da dimensão dos navios porta-contentores:

- A primeira limitação é a “Bacia de Manobra” nos portos. Navios com um comprimento superior a 450 metros não conseguirão manobrar em praticamente nenhum dos grandes portos mundiais;

- A segunda limitação tem a ver com o calado dos navios. Poucos portos, a nível mundial, têm “água ao cais” suficiente, para receber navios que “calam” mais de 17 metros.  Esta limitação tem implicações a nível portuário bem como nos principais Estreitos/Canais que são utilizados nas Rotas Marítimas Mundiais (Canal do Panamá/ Canal do Suez/ Estreito de Malacca);

- A terceira limitação está associada à superestrutura portuária (equipamentos de carga/ descarga). O rendimento teórico de um pórtico de cais não ultrapassa os 35 TEU/hora, valor manifestamente insuficiente quando se trata da carga/descarga de 4.000 a 6.000 TEU num único porto, como é tradicional neste tipo de navios. Existem igualmente poucos pórticos com uma “lança” de carga capaz de alcançar o 24.º contentor lado-a-lado ou com uma altura superior a 25 TEU empilhados (13 acima da linha do convés).

Ritmo da Operação Portuária






Fonte: Adaptado e actualizado de Gonçalves, Fernando – Livro: Mercado do Transporte Marítimo de Carga Contentorizada (Chiado Editora, 2015)

Estes valores de produtividade de um pórtico são teóricos (consideram uma massa uniforme de contentores). Na prática, um navio tem descontinuidades, que dificultam a operação portuária. Os portos com maior rendimento, a nível mundial, não ultrapassam os 150 TEU/hora.


Limitações da Superestrutura Portuária (Equipamentos)















O aumento da dimensão dos navios tem sido conseguido essencialmente pelo rearranjo dos contentores acima da linha de convés e pelo aumento da sua boca (largura) e não pelo seu LOA (comprimento fora-a-fora).

Esse facto justifica que a aplicação de um número crescente de pórticos de cais, não se traduza em ganhos significativos em termos de eficiência das operações portuárias. O acréscimo no ritmo de carga/descarga associado à utilização do 6 e 7.º pórtico é meramente marginal face à produtividade associada à utilização dos primeiros cinco pórticos referenciados. A interação crescente entre os pórticos, associado aos limites de segurança da sua área de atuação, determinam essa perda de produtividade.

 

Perspetivas Futuras

 Ao contrário das tendências anteriores no mercado do transporte marítimo de carga contentorizada, a ênfase no futuro não estará nas economias de escala (redução do custo unitário de transporte por aumento da dimensão do navio).

O enfoque agora, em abril de 2024, com o mercado caracterizado pela disrupção das cadeias de abastecimento, pela falta de fiabilidade dos serviços e pelo congestionamento nas infraestruturas marítimas e portuárias, está na maximização da capacidade de carga, tendo em consideração as dimensões do navio, visando especialmente, a otimização do ritmo de carga/descarga e da operação portuária. 


Enviar um comentário

0 Comentários