A Importância dos Oficiais da Marinha Mercante (Artigo publicado no Bordo Livre - Revista do COMM Junho 2025)


A Importância dos Oficiais da Marinha Mercante

MSC Internacional

Fundada em 1970, por Gianluigi Aponte (Capitão da Marinha Mer­cante), a MSC – “Mediterranean Shipping Company” iniciou a sua atividade com um único navio de carga. No dia 5 de janeiro de 2022, 52 anos após a sua fundação, a MSC assumiu a liderança mundial, em termos de capacidade, no mercado do transporte marítimo de carga contentorizada.

Tratou-se de um dia histórico no shipping. A MSC destronou a lide­rança de 23 anos da Maersk Line, empresa de cariz secular, fundada em 1886, pelo também Capitão da Marinha Mercante, Peter Maersk Moeller.

Em Junho de 2025, a MSC tem uma frota de 919 navios porta-contentores, que representam uma capacidade de carga de 6,6 milhões de TEU. Em paralelo, é também o operador marítimo com a maior carteira de encomendas de novos navios. A mesma ascende a 2,1 milhões de TEU.

Sendo a nossa primeira participação no Bordo Livre, Revista do Clube de Oficiais da Marinha Mercante de Portugal, não queríamos deixar de apresentar estes dados estatísticos, que evidenciam claramente que uma formação académica como Oficial da Marinha Mercante, associada a capacidades inatas de empreendedorismo e visão estratégica, criaram grandes grupos económicos no sector dos transportes marítimos e da logística. Gianluigi Aponte ou a secular família Maersk Moeller são disso um bom exemplo.

Atenção, a perspetiva de abordagem e o enquadramento do negócio mudou. Hoje não basta especializarmo-nos no transporte marítimo. Falamos de cadeias de abastecimento globais que vão desde o expedidor ao recebedor final das mercadoria e envolvem soluções de multimodais complexas.  

Mais uma vez Aponte é disso um bom exemplo.  A MSC investiu na logística terrestre (MEDLOG-Ferrovia) e no transporte aéreo (MSC Air). Após consolidar a sua liderança no mercado, seguiu uma estratégia de integração da cadeia de abastecimento, tendo realizado ofertas públicas de aquisição sobre o Grupo Bolloré - África ou sobre a Log-In Logística - Brasil.

Os seus investimentos também abrangem outras áreas do transporte marítimo. Em 1988, Aponte expandiu os negócios para o setor de cruzeiros, fundando a MSC Cruzeiros, hoje a terceira maior operadora de cruzeiros do mundo (com a qual o COMM mantêm uma parceria comercial muito atrativa para os seus associados).

Em 2025, aproveitando um contexto geoestratégico complexo (influência Chinesa na operação portuária no Canal do Panamá), a MSC prepara-se para realizar a maior operação de aquisição de sempre a nível portuário e, simultaneamente, face à influência política e económica dos EUA, garantir a aprovação das Autoridades de Concorrência a nível internacional. Mais um golpe de mestre da MSC Internacional.

A TiL (Terminal Investment Limited), propriedade da MSC Internacional, que assumia a “modesta” 6.ª posição na operação portuária a nível mundial, com um volume de 51 milhões de TEU movimentados, com a operação de aquisição da Hutchinson Ports pode vir a assumir também o papel de líder mundial da operação portuária. Depois de se ter assumido como líder incontestado a nível dos Operadores Marítimos de Carga Contentorizada, a MSC Internacional, pode assumir agora o papel de maior Operador Portuário Mundial

 
                                                                Mystic Cruises

Apesar de salvaguardar as diferenças de dimensão e áreas de negócio, a nível nacional temos um exemplo empresarial que se assumiu como “Case Study” de sucesso internacional. Em 1993, Mario Ferreira fundou a Douro Azul, que rapidamente se tornou a principal operadora de cruzeiros fluviais no rio Douro. Embora sendo gestor de formação académica, Mário Ferreira desde sempre teve uma especial atenção na seleção dos seus assessores, privilegiando desde muito cedo os licenciados da ENIDH - Escola Superior Náutica D. Henrique.

Em 2015, adquiriu a empresa alemã Nicko Cruises, expandindo a operação para os principais rios da Europa. Posteriormente, em 2018, lançou a Mystic Cruises, focada em cruzeiros oceânicos, construídos nos estaleiros West Sea em Viana do Castelo.

Numa lógica de criação de um autêntico cluster marítimo, de base nacional, a empresa tem feito uma forte aposta na construção naval em Portugal. Em 2020, foi celebrado um contrato no valor de 287 milhões de euros para a construção de quatro navios da classe Explorer, dois quais dois já foram vendidos (ainda em fase de construção), por cerca de 200 milhões de dólares.

No segmento fluvial, a Douro Azul, também parte do grupo Mystic Invest, continua a expandir a sua frota no rio Douro. Em abril de 2025, foi batizado o AmaSintra, o 12.º navio-hotel da empresa, também construído nos estaleiros de Viana do Castelo, sendo determinantes para a revitalização económica da West Sea.

A Mystic Invest e a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique são um bom exemplo de uma parceria “win-win” em termos académicos e empresariais. Uma parte relevante dos praticantes da ENIDH embarca e fazem os seus estágios e percurso profissional nos navios da Mystic. Em paralelo a Mystic Cruises dá o seu feedback sobre quais as áreas específicas de melhoria a nível da formação dos alunos. As atividades de mecenato empresarial a nível de infraestruturas e equipamentos são igualmente muito significativas.

 

Conclusão

Uma sólida formação académica e profissional como Oficial da Marinha Mercante, sempre foram determinantes para o empreendedorismo e sucesso empresarial no sector do Shipping. A MSC, a Maersk Line ou a Mystic Invest são disso um bom exemplo.

O paradigma do negócio mudou. Cada vez mais temos de perspetivar a cadeia de abastecimento como um todo, envolvendo múltiplas combinações modais e logísticas desde o expedidor ao recebedor da mercadoria. Isso envolve equipes multidisciplinares nas quais os Oficiais da Marinha Mercante continuam e continuarão a desempenhar um papel determinante.




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