Tarifas Alfandegárias EUA/Portugal: O Efeito Trump nas Exportações Portuguesas (Artigo publicado na Supply Chain Magazine)

Tarifas Alfandegárias EUA/Portugal: O Efeito Trump nas Exportações Portuguesas

A recente ameaça de tarifas alfandegárias por parte dos EUA volta a pôr em causa o equilíbrio do comércio internacional. Neste artigo de opinião, o professor Fernando Cruz Gonçalves analisa os potenciais impactos desta medida, com especial enfoque na posição de Portugal neste contexto global.

Sendo o Comércio Internacional a variável determinante sobre a procura de serviços de transporte marítimo, naturalmente a imposição de tarifas alfandegárias, irá refletir-se negativamente na procura desses mesmos serviços.  

Tudo isto a propósito da decisão de Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre todas as importações provenientes de países da União Europeia a partir de 1 de junho de 2025. Como tem sido habitual em todos os seus ultimatos, após uma conversa telefónica com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Trump concordou em prorrogar a data de imposição das tarifas para 9 de julho de 2025, permitindo o eventual consenso através de uma nova série de rondas negociais.

Ao analisarmos as taxas de frete do mercado do transporte marítimo na Rota Transatlântica (Europa/EUA), temos de assumir que Donald Trump tem alguma razão quando se queixa de tratamento desigual nas trocas comerciais entre estes dois grandes blocos económicos. 

Há muito mais fluxo de carga da Europa para os EUA do que em sentido inverso. A título de exemplo, o transporte de um FEU (contentor marítimo de 40 pés) de Roterdão para Nova Iorque ascende aos 2.041 dólares. Em sentido inverso, face à falta de carga para transportar no retorno, o valor do frete marítimo não excede os 842 dólares (dados de maio de 2025).

 

Rota Transatlântica Europa/EUA

De modo similar, foi anunciado em 12 de maio de 2025, uma trégua temporária, de 90 dias, na guerra comercial entre os EUA e a China, com reduções significativas nas tarifas de importação. Em termos genéricos foi anunciada uma redução das tarifas dos EUA sobre os produtos chineses, sendo as tarifas reduzidas de 145% para 30% durante um período de 90 dias. Como contrapartida, as tarifas chinesas sobre os produtos dos EUA foram reduzidas de 125% para 10% no mesmo período.

Há um padrão comum nesta forma de negociar. Os EUA avançam sempre com cenários dantescos de protecionismo comercial, os seus interlocutores ripostam de igual forma e, impreterivelmente, é decidida uma trégua temporária para negociar valores aceitáveis de tarifas alfandegárias para ambas as partes. 

É nossa convicção que o mesmo irá acontecer na negociação comercial entre os EUA e a União Europeia. Depois de duras rondas negociais, irá ser alcançado um acordo temporário, com uma redução das tarifas dos EUA sobre os produtos da União Europeia, sendo as tarifas reduzidas de 50% para 10% durante um período de 90 dias. Como contrapartida, as instâncias europeias comprometem-se a não retaliar, sendo agendadas reuniões sectoriais para alcançar consensos em cada um dos diferentes sectores de atividade económica.

Curiosamente, a nível da União Europeia, Portugal poderá ser um dos países menos prejudicado pelo eventual aumento das tarifas alfandegárias. Os EUA são o 4.º mais importante parceiro comercial (a seguir à Espanha/ Alemanha e França) e temos um excedente na balança comercial de 6.000 milhões de Euros. 

Relativamente às importações dos EUA ascendem a 4.000 milhões de Euros. Quando analisamos as exportações de Portugal para os EUA, elas ascendem a 10.000 milhões de Euros, muito alicerçadas nos produtos químicos, combustíveis minerais, cortiça e uma cada vez crescente exportação de produtos farmacêuticos. As nossas maiores empresas exportadoras são a Corticeira Amorim, a GALP, Continental Mabor, as farmacêuticas Elly Lilly, a Ikma e a Hovione.

A variável determinante em termos económicos para avaliar o impacto do aumento das tarifas alfandegárias é a elasticidade da procura, ou seja, a sensibilidade da quantidade procurada ao fator preço. A maior parte das nossas exportações para os EUA, são produtos com um comportamento inelástico, pouco sensíveis ao fator preço e sem grandes alternativas (produtos substituíveis). É nossa convicção que não haverá um impacto significativo na procura por esses mesmos produtos. 

O impacto mais significativo está associado aos serviços, em particular o turismo. A desvalorização do dólar, associada à alteração dos padrões de consumo nos EUA em tempo de recessão, faz preterir as deslocações de lazer (serviços com um comportamento muito elástico).

Aliás, é nossa convicção que o principal alvo do aumento das tarifas alfandegárias dos EUA à União Europeia, é marginal a Portugal. Centra-se essencialmente nas importações do sector automóvel, dos produtos agrícolas (queijos, vinho e carne), bem como do sector da siderurgia e alumínio. 

Concluindo, iremos continuar a assistir a negociações para avaliar o nível mais equilibrado nas tarifas alfandegárias a nível global. Não é sustentável para a economia dos EUA a manutenção de um défice comercial para com a China, União Europeia, México e Canadá superior a 1 trilião de dólares. De qualquer maneira, a boa notícia é que o impacto sobre a economia Portuguesa não será particularmente significativo.

Fernando Cruz Gonçalves, Professor da ENIDH – Escola Superior Náutica Infante D. Henrique

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