Review of Maritime Transport 2024 - UNCTAD - Nações Unidas (Artigo Revista Transportes & Negócios)

 Revista do Transporte Marítimo de 2024

UNCTAD (Nações Unidas)


No dia 22 de outubro foi oficialmente lançada a publicação anual de maior relevância a nível mundial para o sector marítimo-portuário. Falamos do “Review of Maritime Transport 2024”, publicada sob a égide da UNCTAD (órgão das Nações Unidas que visa promover a integração de países em desenvolvimento na economia mundial, nos quais o transporte marítimo desempenha um papel fundamental).

Como não podia deixar de ser, o tópico em foco para 2024 centra-se na disrupção generalizada das cadeias de abastecimento a nível global, com particular enfoque nos estrangulamentos a nível das principais infraestruturas marítimo-portuárias (Canal do Suez / Canal do Panamá), associadas à convulsão geopolítica e ao clima beligerante vivido presentemente a nível mundial (conflitos Extremo Oriente / Guerra da Ucrânia / Clima de tensão entre a China e Taiwan), bem como ao fenómeno das alterações climáticas.

Disrupção das Cadeias de Abastecimento

Os fenómenos disruptivos tiveram um forte impacto a nível das rotas marítimas mundiais, traduzindo-se num aumento significativo das taxas de frete nos principais mercados do transporte marítimo (e em particular no mercado da carga contentorizada).

Este aumento não está associado a um aumento significativo da procura (aumentou cerca de 2,4% relativamente a 2023), mas sim a uma retração da oferta disponível determinada pelo aumento das distâncias percorridas por via marítima. Embora o indicador toneladas transportadas não tenha aumentado significativamente, o indicador tonelada x milhas teve um substancial acréscimo pela necessidade de seguir vias alternativas, necessariamente mais distantes, visando fazer o “bypass” às zonas em convulsão.

 

Em termos globais, em média para os diferentes mercados do transporte marítimo, o indicador tonelada x milhas percorridas aumentou 4,3%, sendo este aumento particularmente significativo no mercado da carga contentorizada (aumento de 12% na procura).

Maiores distâncias percorridas por via marítima traduzem-se em maiores custos de combustível, seguros e tripulação. A este facto acresce o início da implementação em 2024, a nível da União Europeia, do sistema ETS visando a tarifação das emissões poluentes do transporte marítimo. A resposta dos Operadores Marítimos foi a implementação de sobretaxas que aumentaram significativamente os fretes marítimos.

Implicitamente no documento é criticada a robustez financeira dos relatórios dos Operadores Marítimos, em contraste com os problemas e desafios económicos e sociais dos países menos desenvolvidos.

A UNCTAD prevê que, em termos globais, um aumento de 0,6% na inflação possa ser imputado ao aumento dos custos do transporte marítimo, mas esse valor é potenciado para 0,9% em economias pouco desenvolvidas e pode ascender a 1,3% em alguns segmentos particularmente relevantes…

Neste documento, a UNCTAD lembra que o aumento das taxas de frete no transporte marítimo pode ser indutor de surtos inflacionistas, que são particularmente relevantes em economias mais vulneráveis, nomeadamente em países arquipelágicos e, em particular, com baixo nível de desenvolvimento.

A UNCTAD prevê que, em termos globais, um aumento de 0,6% na inflação possa ser imputado ao aumento dos custos do transporte marítimo, mas esse valor é potenciado para 0,9% em economias pouco desenvolvidas e pode ascender a 1,3% em alguns segmentos particularmente relevantes como os cereais (transporte marítimo a granel) e os bens alimentares (tradicionalmente transportados em contentor).

O documento chama igualmente a atenção para que todo o esforço para descarbonização no transporte marítimo, face às circunstâncias atuais, está comprometido. Numa fase em que todo o enfoque estava na tarifação e redução das emissões poluentes do transporte marítimo, todos os ganhos unitários (por navio) de redução das emissões poluentes foram pulverizados pelo aumento das distâncias percorridas. Trata-se de uma oportunidade única – “green oportunity” – que está a ser perdida.

A UNCTAD advoga o aumento da resiliência e robustecimentos das cadeias de abastecimento, num lógica de minimização de custos e fomento da fiabilidade das mesmas (redução congestionamento portuário/ redução dos estrangulamentos nas infraestruturas marítimas e portuária/ redução da convulsão laboral).

 

Nota: Para uma análise mais detalhada sobre esta temática, consultar o livro “Disrupção das Cadeias de Abastecimento – Transporte Marítimo”, da autoria de Fernando Cruz Gonçalves, lançado em setembro de 2024 (Riscos Editora).

   FERNANDO CRUZ GONÇALVES

 

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