Encalhe do navio "Mumbai Maersk"

 ENCALHE DO NAVIO “MUMBAI MAERSK”

Quando será o próximo grande acidente marítimo?

Fig.1 - Operação de desencalhe do navio “Mumbai Maerk”

O navio “Mumbai Maersk” do Operador Marítimo Maersk Line encalhou na 4.º Feira, dia 2 de Fevereiro, às 2305 LT, na manobra de aproximação ao porto Alemão de Bremerhaven.

Trata-se de um dos maiores navios do mundo, um “Triple-E” de 2.ª Geração da Maersk (2018), com uma capacidade de 19.630 TEU, 399 metros de comprimento “fora a fora” e 58 metros de boca.

O mau tempo que tem insistentemente varrido o Mar do Norte nos últimos dias, foi inicialmente apontado como causa do encalhe, embora a trajetória do navio na manobra de aproximação ao porto de Bremerhaven, pareça indiciar uma falha no leme.

Após apontar ao enfiamento da Barra, o navio guinou, abruptamente, a bombordo, fazendo um círculo de giração sobre si mesmo, que culmina com o encalhe num baixo a estibordo (sonda reduzida – 11 metros). A zona de encalhe é, exatamente, a zona utilizada para descarregar as areias de dragagem do enfiamento da Barra do porto de Bremerhaven, o que pode explicar a aparente ausência de danos estruturais no navio.

Fig.2 – Trajectória do navio “Mumbai Maerk” (Fonte -Marine Traffic)

As autoridades Alemãs de Wilhelmashaven e Oldenburg estão a investigar a causa do acidente e ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o mesmo. As manobras iniciais de resgate do navio não tiveram sucesso. A operação de deslastro dos tanques foi desencadeada e o navio passou a calar 13,7 metros.

Não se verificaram vítimas entre a tripulação nem, aparentemente, poluição ambiental por ruptura dos tanques de combustível. Trata-se de um aspecto relevante, pois as ilhas em redor da entrada do porto de Bremerhaven são reservas ecológicas de cariz turístico e piscatório.

Aproveitando a praia-mar de hoje, 4 de Fevereiro, às 0030 (uma das maiores do mês) e a força de tração dos reboques “Sovereign” (180 MT) e “Neuwerk” (110 MT) com cabo passado à proa, com recurso a mais três rebocadores a estibordo ao costado, e três rebocadores com cabo passado à popa, a operação teve êxito. 


Fig.3 – Operação de desencalhe do navio “Mumbai Maersk” (Fonte - Havariekommando)

Após o encalhe do “Evergiven” no Canal do Suez (23 a 29 de Março de 2021), não temos dúvidas que o encalhe do “Mumbai Maersk” vai, mais uma vez, relançar a discussão sobre o aumento da dimensão dos navios.

Não deixa de ser curioso que o navio assumiu, em Agosto de 2018, o título de maior número de contentores transportados, de uma só vez, na Rota do “Far-East” (19.038 TEU), numa viagem em trânsito China/ Norte da Europa.

Coloca-se a seguinte questão. Fará sentido a incessante procura de economias de escala (redução dos custos unitários de transporte por aumento da dimensão dos navios, quando não estão assegurados os standards mínimos de segurança em infraestrutruras marítimo-portuárias?

Os próximos tempos continuarão a ser de reflexão sobre esta temática. A Maersk Line acaba por ser vítima desta situação, sem provavelmente, o merecer. Foi a pioneira em perspectivar, em termos futuros, limites ao aumento de dimensão dos navios. Deixou de fazer encomendas em estaleiro de navios de grande dimensão. Os maiores navios que tem em encomenda em estaleiro são navios de apenas 16.000 TEU (dual fuel/metanol). Infelizmente parece foi tarde demais.

Fernando Cruz Gonçalves (Professor da ENIDH)




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