BDI – “Baltic Dry Index”
Evolução do BDI (Agosto
de 2020 a Julho de 2021)
Tradicionalmente centramos a nossa análise
no mercado do transporte marítimo de carga contentorizada. No entanto, no mercado
do transporte marítimo, individualizaram-se mercados com características próprias,
quer em termos da carga transportada, quer em termos da tipologia da frota e
ainda em termos das características da procura. O mercado dos graneis sólidos é
disso um bom exemplo.
O “benchmark” mais relevante neste mercado
é o chamado BDI – “Baltic Dry Index”. Trata-se de um índice que reflecte as
taxas de frete praticadas no mercado do transporte marítimo dos graneis sólidos
das principais matérias-primas transportadas, sendo 40% referentes a
contratos “time charter” de navios Capsize (navios de 80.000 a 170.000 dwt – tipicamente
utilizados para o transporte de minério de ferro e carvão), 30% referentes a
navios Panamax (navios de 60.000 a 80.000 dwt – associados ao transporte de
carvão e cereais) e os restantes 30% a navios Supramax (navios de 50.000 a
60.000 dwt). Este indicador de referência é calculado envolvendo as 23 mais importantes
rotas marítimas de graneis sólidos.
Trata-se de uma importante referência da actividade económica mundial, visto estar associado ao transporte marítimo das
mercadorias (matérias-primas) que vão "alimentar" a montante cadeias
de abastecimento cada vez mais globais. Antecipam assim as previsões da produção de matérias primas, a jusante, e a produção de bens de um agregado económico, a montante.
Paralelamente, este “benchmark”, não é passível
de ser corrompido por movimentos especulativos típicos dos mercados de capitais. Ninguém freta espaço de carga num navio a não ser que tenha mercadorias para transportar.
Estas características associadas à elevada
dependência do negócio do “shipping” da liquidez do sistema financeiro fazem
deste índice uma referência para muitos investidores no mercado de capitais.
Estes investidores nada percebem de “shipping”
mas sabem que analisando a evolução do BDI podem antecipar alterações significativas
no mercado, antecipando períodos de fulgor/ retração económica.
Um exemplo disso foi o “crash
financeiro” de 2008. Para terem percepção da volatilidade deste mercado, o BDI
passou de 11.793 (máximo em Maio de 2008) para mínimos de 600 (Dezembro de
2008). Tratou-se da queda mais abrupta e do valor mais baixo assumido pelo BDI
nos últimos 35 anos e reflecte claramente a dimensão da crise económica vivida
à escala mundial.
Nos últimos tempos temos vindo a assistir
a uma recuperação do BDI que encerrou no dia 1 de Julho de 2021 nos 3418 pontos,
o valor mais elevado dos últimos doze anos. Atenção, julgamos que que não
devemos entrar em euforias. Nas últimas três sessões o BDI desceu ligeiramente para
os 3364 pontos. As exportações de minério de ferro da empresa Vale (Brasil)
foram apontadas como a principal causa desta descida. Alegados problemas estruturais nas minas de Timbopeba e
na mina de Alegria colocaram o mercado em retração.
A relativa inelasticidade da oferta faz
com que este índice seja muito sensível a variações marginais na procura. Mais,
o "main driver" por detrás do aumento do BDI centra-se em importações
massivas de matérias-primas por parte da China após a retração associada à Pandemia
do COVID 19.
O comércio internacional é a variável determinante sobre a procura de serviços de transporte marítimo. O BDI é, sem dúvida, um importante indicador da actividade económica à escala global.
Para
um investidor nos mercados financeiros, é uma informação indispensável para
antecipar decisões de investimento/ desinvestimento. Poucos indicadores conseguem identificar com esta acuidade tendências futuras em termos de desenvolvimento económico.
Fernando Cruz Gonçalves (Professor na ENIDH)
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