Revista Cargo - Fernando Cruz Gonçalves (ENIDH) - Acho que não teremos navios com mais de 25 mil TEU

 Fernando Cruz Gonçalves (ENIDH): Acho que não teremos navios com mais de 25 mil TEU’s

(27 de Setembro de 2017)
MSC
O X Congresso da APLOP – Associação dos Portos de Língua Oficial Portuguesa, que decorreu recentemente no Porto de Lisboa, foi rico em conteúdo, sendo disso bom exemplo o Painel subordinado ao tema ‘Tendências do Shipping’, no qual Fernando Cruz Gonçalves (Coordenador dos Cursos de Gestão da Escola Náutica Infante D. Henrique (ENIDH)) participou enquanto orador.

E uma das inegáveis tendências do shipping está ligada ao crescimento contínuo do tamanho dos porta-contentores, uma realidade à qual Cruz Gonçalves deu particular ênfase na sua intervenção.

«Analistas previam que o maior navio do mundo teria 11 mil TEU’s»

«Em 2004, os grandes analistas previam que o maior navio no mundo teria 11 mil TEU’s», recorda o especialista no sector do shipping e professor da ENIDH sobre uma previsão que se veio a provar estar totalmente errada. «O próprio Canal do Panamá foi projectado para ser utilizado por navios com capacidade máxima de 12.500 TEU’s», acrescenta, lembrando porém que «hoje já existem navios de 22 mil TEU’s e não param de crescer».

Vincando que se torna importante «perceber onde vai parar» este crescimento dos navios porta-contentores, Cruz Gonçalves mostrou-se convicto de que estaremos perto do limite: «A boa notícia é que acho que estamos próximos de parar. Acho que não passaremos dos 25 mil TEU’s, por um conjunto de razões. Porque os navios deixarão de ser viáveis a nível de retorno comercial ou a nível de superestrutura portuária».

O especialista perspectiva assim que serão motivos comerciais e de falta de resposta em terra, nos terminais, que poderá colocar término a esta gigantização, dado que a tecnologia e a engenharia têm mostrado capacidade para ir bem mais além. «A nível tecnológico, quase não há limites, há projectos para navios de 35 mil TEU’s que cumprem todos os requisitos», concluiu.

«Estamos a caminhar para um oligopólio»

Outro das tendências que o sector do shipping vem registando, com especial ênfase nos últimos dois anos, diz respeito ao processo de consolidação dos players do transporte marítimo contentorizado. «Os anos de 2016 e 2017 foram anos loucos no shipping com o processo de consolidação», recordou Cruz Gonçalves, acrescentando mesmo que «estamos a caminhar para um oligopólio»: «No final do ano, o top-5 dos armadores no transporte marítimo contentorizado terá cerca de 60% da carga e o top-10 terá 80%!».

Navio da Hamburg Süd, companhia que se prepara para passar para as mãos da Maersk.

Ora, neste contexto e também por ser um caso de um país lusófono, o professor da ENIDH debruçou-se de forma particular sobre o caso brasileiro, um mercado onde vê ameaças ao nível da concorrência com o negócio de compra da Hamburg Süd por parte da Maersk Line – o qual foi ontem aprovado pelo regulador brasileiro!

Na sua intervenção – feita, obviamente, antes da aprovação da compra por parte da entidade reguladora do mercado brasileiro – Cruz Gonçalves levantou questões e dúvidas em relação à concorrência no Brasil com o negócio Maersk-Hamburg Süd, recordando que a Maersk Line já tinha mesmo acordado a venda da Mercosul Line à CMA CGM. «Mas, por outro lado, a Maersk Line está na Aliança 2M e no longo curso têm grande quota se juntarmos a MSC e agora a Hamburg Süd», recordou o especialista do sector.

A «mudança de paradigma energético» a partir de 2020

Uma outra tendência no sector diz respeito à obrigatória mudança que terá de ser feita a nível de combustíveis dos navios, dado o aproximar dos novos limites para as emissões de dióxido de enxofre. «Vamos assistir a uma alteração do paradigma marítimo quando a 1 de Janeiro de 2020 todo o mundo passar a ser uma ECA (Emission Control Area)», realçou Cruz Gonçalves. «E são os países do Norte da Europa que se estão a preparar para esta mudança de paradigma energético», concluiu a este propósito.

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