Professor Adriano Moreira faz 100 anos de vida
O Mercado do Transporte Marítimo de Carga Contentorizada | Livraria Atlântico (livrariaatlantico.com)
No dia em que o Professor Adriano Moreira faz 100 anos de vida, evidenciando ainda uma notável lucidez, é para mim uma honra que tenha sido ele a elaborar o Prefácio do livro "O Mercado do Transporte Marítimo de Carga Contentorizada".
Lembro-me, como se fosse hoje, que teve que ser ajudado, pelo meu pai, para subir ao púlpito e fazer a apresentação do livro. Perante a sua fragilidade física, duvidei, por momentos, que o conseguisse fazer.
Levava um discurso escrito. Olhou para a assistência, maioritariamente Oficiais da Marinha Mercante, no Auditório da ENIDH - Escola Superior Náutica Infante D. Henrique e guardando os papeis lançou o desafio. O discurso escrito fica aqui para depois o publicarem. Vou falar daquilo que considero determinante. A ausência de um conceito estratégico nacional. O novo movimento de regresso ao Mar é determinante para a prossecução desse objectivo.
Fez, como sempre, um discurso brilhante. Sem qualquer tipo de meios audiovisuais de suporte. Apenas a sua inteligência e capacidade de reflexão. Parecia que tinha rejuvenescido 30 anos quando fazia a sua preleção.
Hoje, também com dificuldades de locomoção, tento seguir o seu legado. A necessidade do regresso da nossa Nação ao Mar. Ninguém o faz tão bem como ele.
Parabéns pelo seu centésimo aniversário Senhor Professor Doutor Adriano Moreira. É uma honra e um prazer ter privado consigo. Muitas felicidades e muitos anos de vida.
Prefácio do Professor Adriano Moreira
Este livro contribuirá, como merece e esperamos que consiga, para enriquecer o movimento de regresso ao Mar, que volta a ser uma das janelas de liberdade de Portugal, em carência de conceito estratégico nacional.
É lisonjeiro o convite que o ilustre autor deste trabalho me dirigiu
para escrever o prefácio, que a lucidez da obra dispensa, e a sua especialidade
me dispensaria a mim. Mas não posso deixar de corresponder, não apenas pela sua
oportunidade, no sentido de reforçar o entendimento cívico de que o Mar não é
apenas uma recordação levemente referida no Hino Nacional, continua a ser, como
foi no verdadeiro Conselho de Estado que D. João I reuniu com os Ínclitos
Infantes antes de assentar num conceito estratégico nacional, que hoje não
temos, e em que o mar foi consagrado como elemento essencial do futuro do povo
português. Povo instalado em pequeno território, sempre em todo o caso mais
condicionado por regimes políticos extrativos do que por regimes políticos
inclusivos, e que, como foi notado por mais de um analista, não aproveitou os
rendimentos da gesta marítima para implementar a modernização de Portugal ao
ritmo da Europa que o seguiu nas conquistas sem esquecer as respetivas
metrópoles.
Cada Império – Índia, Brasil, África – acabou em falência do Estado e empobrecimento do povo para equilibrar, não o seu modo de vida, mas o financiamento da administração pública. Sendo um país que sempre necessitou de um apoio externo, como a Santa Sé, a Aliança Inglesa, e finalmente a União Europeia, mais uma vez se verificou que a euforia veio seguida da depressão e até da diminuição da igualdade na comunidade das Nações. Aconteceu que, ao mesmo tempo que sofremos, entre os destroços da crise, o definhamento dos estaleiros de Viana do Castelo e a privatização do Alfeite, as Universidades, sobretudo as dos Açores, de Aveiro, e do Algarve, intensificaram os estudos sobre o Mar, sobretudo no que respeita à Plataforma Continental, à importância da maritimidade de todos os países da CPLP, acompanhando a contribuição do Hipercluster do Mar em que se distingue José Manuel Félix Ribeiro, a Maralgarve, investigadores individuais, mas sempre com a falha de o regresso ao Mar não constar dos programas partidários, que anunciam a intenção de governar. Designadamente, a extensão da Plataforma Continental, cuja defesa da integridade muito deve à Academia de Marinha, sofre hoje de dois riscos, depois da aprovação pela ONU ter sido adiada de 2013 para 2015, e agora novamente adiada: neste entretanto, a Comissão da União Europeia anunciou o projeto de definição do Mar Europeu, que, em relação ao projeto português, fez lembrar 1890, o Ultimatum, e o Mapa Cor de Rosa, ao mesmo tempo que o Governo Espanhol tornou público um súbito interesse pelas Selvagens, pedindo uma parte extensa da plataforma continental, com a ambição de apropriar o espaço que pertence à Madeira.
É por isso que a iniciativa de investigadores como Fernando Cruz Gonçalves, não servem apenas o saber, mas também reúnem o empreendorismo e o saber fazer, abrindo caminho conducente ao necessário novo conceito estratégico nacional. Designadamente tendo em conta que todos os países da CPLP são marítimos, são pobres, não seria de por de lado a ideia de uma frota marítima comum, já que cada um dos países, em separado, tem de medir a relação entre o desafio e as capacidades. Este tema foi discutido, em 2013, na Semana da Marinha de Guerra do Brasil sobre o Mar Azul, que o Brasil não descura junto ao seu conceito estratégico nacional.
Este livro contribuirá, como merece e
esperamos que consiga, para enriquecer o movimento de regresso ao Mar, que
volta a ser uma das janelas de liberdade de Portugal, em carência de conceito
estratégico nacional.
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