Hamburg Solution vs. Lisbon Solution

 

A Hapag Lloyd, quinto maior operador marítimo mundial de carga contentorizada, foi adquirida ao Grupo TUI pelo consórcio Alemão “Albert Ballin” por cerca de 4,45 biliões de euros. Após rumores do interesse da Maersk Lines neste operador marítimo, foi a NOL – Singapura que apresentou a melhor proposta para a aquisição do gigante alemão. As sinergias entre estes dois operadores são evidentes e, caso se tivesse concretizado esta aquisição, estaríamos a falar da constituição do 3.º maior operador marítimo mundial de carga contentorizada. Até aqui não há nenhuma novidade. Trata-se de mais uma operação de fusão/aquisição que se têm sucedido a um ritmo alucinante no sector marítimo. No entanto, quando analisamos o consórcio “Albert Ballin” verificamos que ele é constituído pelo operador logístico Kuehne&Nagel, por instituições financeiras/seguradoras e pela autoridade municipal da cidade de Hamburgo. Sim, o município de Hamburgo investiu 484 milhões de euros na aquisição da Happag Lloyd. É, aliás, o 2.º maior investidor nesta operação financeira que ficou por isso conhecida pela designação de “Hamburg Solution”. O porto de Hamburgo é um dos maiores portos europeus e as autoridades municipais recearam que a aquisição da Hapag Lloyd pela NOL pudesse conduzir à transferência da operação portuária deste operador para o porto de Roterdão, porto com o qual a NOL tem relações preferenciais. Na nota explicativa do seu envolvimento neste negócio, as autoridades municipais lembram que o porto de Hamburgo é um dos maiores empregadores da cidade, assumindo-se como o “motor” do desenvolvimento socioeconómico de toda a região. Fazendo a analogia para a cidade de Lisboa, não seria altura de reconhecermos a importância económica e social dos terminais de contentores para a região de Lisboa? Poderá Lisboa dar-se ao luxo de limitar o seu único terminal portuário apto a receber navios de grande porte? Como iremos abastecer um hinterland de 4,2 milhões de pessoas? Será viável e economicamente sustentável o abastecimento a partir de Setúbal e/ou Sines? Percebo a “tentação” que muitos Presidentes da Câmara de Lisboa têm de entrar para a história a par do Marquês de Pombal, devolvendo o rio à cidade e eliminando o autêntico “muro de Berlim” que são a Linha de Comboios de Cascais e o Porto de Lisboa. Eu próprio talvez também a tivesse. Mas o lazer urbano e a intrusão visual são apenas algumas das facetas do desenvolvimento sustentável. E esse, lamento, não existe sem actividade produtiva e desenvolvimento socioeconómico. Fernando Cruz Gonçalves – Professor da ENIDH (Escola Superior Náutica Infante D. Henrique)


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