Entrevista (Revista Cargo) - Academia MSC/ENIDH

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Academia MSC/ENIDH: «Curso ‘Shipping and Logistics’ Ă© oferta formativa Ăşnica no panorama nacional»

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A parceria entre a MSC e a ENIDH para a área da formação conta já com três edições do Curso de Especialização em
“Shipping & Logistics Management” e Ă© chegada a hora de fazer o balanço de uma iniciativa que se tem pautado pelo
sucesso. Para tal, nada melhor que sentar à mesa com os coordenadores do projecto, Fernando Cruz Gonçalves (CG)
e Manuela Baptista (MB). Recebida nas instalações da ENIDH, a Revista Cargo procurou saber mais sobre a génese da oferta lectiva, a articulação com o mercado de trabalho e os novos horizontes a explorar.

REVISTA CARGO: Começando pela origem da parceria ENIDH/MSC – em que contexto Ă© que Ă© identificada a necessidade desta solução de formação? Como Ă© que tudo germinou?

CG: A Academia MSC/ENIDH surgiu, naturalmente, da evolução de uma relação muito prĂłxima que já existia
entre a MSC Portugal e a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique. O que aconteceu foi que a MSC Portugal cresceu em simultâneo com o desenvolvimento dos cursos de GestĂŁo da ENIDH, sendo sempre um dos nossos maiores empregadores. Portanto, o que acontecia Ă© que parte significativa dos nossos alunos acabava a trabalhar na MSC, que continuava a crescer. Em 2008 fazemos um Protocolo de Cooperação e passamos a ter tudo isso formalizado – o que acaba por acontecer Ă© que aquilo que era uma relação informal passou a parceria formal. Estamos a falar de uma parceria entre uma instituição de ensino superior que valida a vertente acadĂ©mica, com uma empresa – a MSC Portugal – que dá a componente empresarial.

Consideramos que o curso de Especialização em “Shipping and Logistics”, ministrado no âmbito da Academia MSC/ENIDH, Ă© uma oferta formativa Ăşnica no panorama nacional. Esta afirmação pode parecer um lugar comum,
mas não o é. Aliar formação de carácter empresarial (assegurada pelos formadores da MSC Portugal), a certificação académica (assegurada pelos professores da ENIDH) e a uma elevada possibilidade de ficar a trabalhar no seio de uma das maiores empresas nacionais do sector dos transportes marítimo, portos e logística, não é, necessariamente, apanágio das ofertas formativas convencionais. Não conhecemos mais nenhuma com estas características.

Em que consiste o Curso de Especialização em “Shipping and Logistics Management’?

CG: O Curso de Especialização em Shipping & Logistics Management tem a duração de um ano lectivo envolvendo oito mĂłdulos distintos e 320 de leccionação prática. As matĂ©rias curriculares foram determinadas em conjunto pela ENIDH e pela MSC, tendo em conta o objectivo de promover uma formação adicional direccionada para o transporte contentorizado e para a logĂ­stica, com uma forte componente prática (“on job training”), centrada na actividade do agente de navegação.

Quais sĂŁo os pĂşblicos para os quais está direccionado o ‘Curso de Especialização em Shipping and Logistics Management’?

MB: NĂłs temos trĂŞs pĂşblicos diferentes, os quais necessitam de integração e resposta, com vagas especĂ­ficas para cada um deles. Na prática o curso tem um limite máximo anual de 32 alunos de acordo com as seguintes percentagens de vagas: 40% das vagas reservadas a alunos finalistas e diplomados da ENIDH, 30% das vagas reservadas para quadros superiores e colaboradores da MSC Portugal e da Medway e 30% das vagas adstritas a profissionais do sector dos transportes e da logĂ­stica e ainda a alunos que possuindo uma sĂłlida formação acadĂ©mica pretendem reorientar a sua actividade profissional. Tradicionalmente oito a dez alunos da Academia MSC/ENIDH sĂŁo quadros superiores da MSC Portugal e da Medway. O objectivo Ă© que os mesmos tenham uma visĂŁo global do negĂłcio em que se encontram inseridos no âmbito da sua actividade profissional. SĂŁo escolhidos pela MSC Portugal que acredita que a formação acadĂ©mica Ă© um valor acrescentado para a prĂłpria empresa. Assumem-se como alunos
de referĂŞncia e vĂŁo passado os valores e cultura empresarial da MSC para os restantes alunos. O maior segmento de alunos da academia MSC/ENIDH sĂŁo alunos finalistas da ENIDH – Escola Superior Náutica Infante D. Henrique das licenciaturas em GestĂŁo Portuária e GestĂŁo de Transportes e LogĂ­stica. Procura-se que a MSC Portugal possa
escolher os seus futuros estagiários de uma forma mais rigorosa. Procura-se igualmente que os mesmos sejam
logo à partida um valor acrescentado para a empresa diminuindo os custos associados ao seu período de adaptação/aprendizagem.

CG: O Ăşltimo segmento Ă© quem mais valoriza o curso. SĂŁo pessoas que vĂŞm com outra formação acadĂ©mica e procuram uma via mais profissionalizante de reconversĂŁo profissional. Sinceramente acho muito mais interessante fazer este tipo de curso mais direccionado para uma saĂ­da profissional do que optar por uma nova licenciatura, pois a formação acadĂ©mica já está adquirida faltando apenas complementar os conhecimentos profissionais e sectoriais. Este pĂşblico tem tido muito sucesso em termos de integração profissional.

O curso conta já com três edições. Como tem evoluído a adaptação lectiva a uma realidade empresarial em constante mutação?

MB: O facto, por exemplo, da MSC ter integrado a Medway, reflectiu-se no pĂşblico que temos actualmente, pois
passámos a integrar, a partir da segunda edição do curso, formandos da Medway, o que nos levou a repensar os modelos e os modelos de formação, pensando mais na vertente da intermodalidade e da logística, pensando também nas exigências do sector e olhando para dentro do próprio grupo.

CG: Temos de entender tambĂ©m o contexto em que o curso foi criado: numa altura em que as oportunidades escasseavam, criámos aqui uma lĂłgica de ‘viveiro de talentos’. É importante sentirem que tĂŞm de dar algo mais do
que os colegas, e a ideia era escolher os melhores entre os melhores para terem a oportunidade de ir trabalhar
para a empresa de referência do sector. Tem havido uma evolução interessante também naquilo que é a motivação
dos nossos alunos para frequentar este curso, pois se antes eles olhavam para a Academia apenas como uma oportunidade de entrar na MSC Portugal, actualmente já valorizam o curso, muito pelo conhecimento que é
adquirido, tendo como consequĂŞncia, ou nĂŁo, a sua entrada na MSC Portugal. Cada vez mais empresas valorizam este curso e o facto do formando ter no currĂ­culo o curso da Academia MSC/ ENIDH Ă© algo que Ă© entendido como
tendo valor acrescentado.

O curso tem a reputação de deter uma elevadĂ­ssima empregabilidade…

MB: Em relação aos alunos da ENIDH podemos dizer que a taxa de empregabilidade Ă© de 100%.

CG: O valor da empregabilidade Ă© muito elevado igualmente para os alunos externos (aqueles que se encontram em
reconversĂŁo profissional). Muitas vezes pensamos o que Ă© que este tipo de aluno pode vir a ganhar com este curso,
e a verdade é que de facto ganham, precisamente porque as empresas cada vez mais valorizam esta formação
ministrada no seio da Academia MSC/ENIDH.

Entrar na MSC costuma ser um objectivo partilhado por muitos?

CG: Neste momento, 50% dos funcionários da MSC Portugal sĂŁo alunos da ENIDH, e Ă© curioso verificar que, independentemente dos objectivos pessoais de cada um e da posição que ocupam na empresa, Ă© raro o caso daquele que quer sair. Portanto sĂŁo pessoas que estĂŁo satisfeitas e Ă© tambĂ©m sinal de que Ă© a MSC que acolhe muito bem. Aqui conta muito a prĂłpria imagem da empresa em si, Ă© algo intangĂ­vel, mas que faz com que as pessoas se liguem Ă s empresas. O Dr. Carlos Vasconcelos Ă© exĂ­mio nisso, tem qualquer coisa que nĂŁo Ă© tangĂ­vel e que faz com que as pessoas ingressem e queiram ficar na MSC Portugal. A acrescentar a isso, a MSC tem tambĂ©m uma grande preocupação com a Ă©tica, com a questĂŁo multi-cultural e de gĂ©nero. NĂŁo há dĂşvida nenhuma que Ă© uma empresa que cumpre aquilo que apregoa a este nĂ­vel.

Na perspectiva geral da ENIDH – tĂŞm conseguido colocar outros alunos, que nĂŁo da Academia MSC/ENIDH tambĂ©m na MSC Portugal?

MB: Sim, de facto a procura Ă© muita e já tivemos de recorrer aos alunos de licenciatura tambĂ©m para preencher as
vagas que a MSC Portugal necessita. A verdade Ă© que, hoje em dia, cada aluno destes sai daqui com duas/trĂŞs propostas de emprego em mĂŁos.

O processo de recrutamento e a captação de talentos está a mudar nos dias que correm?

CG: Nota-se que existe uma mudança de abordagem na empregabilidade. As empresas procuram os alunos.
Acredito que, no futuro, serĂŁo as empresas a pagar as formações dos potenciais talentos, de forma a cativá-los. O modelo tradicional de colocar um anĂşncio e esperar o envio de CV’s já nĂŁo funciona – as empresas tĂŞm de pensar em novas formas de chegar aos talentos e de fidelizar as pessoas ao seu conceito. Os empregadores hoje em dia tĂŞm de arranjar novas formas de cativar talentos e formas de ter outro tipo de proximidade com os alunos.

MB: NĂłs pensámos inclusivamente no cenário em que os alunos passariam a estagiar durante a Academia MSC/ENIDH pelos diversos departamentos da MSC Portugal, pois acreditamos que, conhecendo as instalações, as
pessoas e os processos da empresa, se fidelizam os alunos.

QuĂŁo importante Ă© esta simbiose entre a ENIDH e a MSC Portugal no contexto do mercado de trabalho do sector?

CG: Neste momento, de facto, uma das orientações estratĂ©gias do ensino superior Ă© fomentar essa relação com o meio empresarial. É importante existir esta ligação entre uma Instituição de referĂŞncia na formação, que Ă© a Escola
Náutica, e o segundo maior operador marítimo internacional (segmento marítimo da carga contentorizada). Foi interessante poder aferir os nossos conteúdos programáticos através da visão pretendida pelo empregador (MSC Portugal). Para nós foi importante. Os empregadores passam a participar activamente na elaboração dos conteúdos programáticos.

Sobre o futuro – que revelações, ambições e potenciais projectos poderĂŁo estar na calha?

CG: Podemos revelar que está confirmada a quarta edição da Academia MSC, com candidaturas para a prĂłxima edição já em Setembro. Se nos perguntarem o caminho futuro, o enfoque será cada vez mais na vertente de logĂ­stica, apesar de o Shipping estar lá sempre. Pensamos que o caminho Ă© insistir mais nessa vertente, mais horas dedicadas a logĂ­stica.

MB: O nosso objectivo agora seria o de alargar a nossa área de actuação em termos geográficos. Para tal temos várias possibilidades a nĂ­vel nacional (Leixões e Açores) e tambĂ©m em termos internacionais. No Norte há pouca oferta de formação em termos de transportes e logĂ­stica e há significativa procura.

Houve tambĂ©m uma aproximação com os portos dos Açores (Praia da VitĂłria)…

MB: Sim, de facto. Pediram-nos que fossemos lá apresentar este modelo, e penso que foram unânimes em considerar que representava uma mais-valia. O que está em causa Ă© a concessĂŁo que está para ser feita nesse
porto – de um porto de águas profundas – e a ideia passava por negociar tambĂ©m a mĂŁo-de-obra qualificada de forma a ser uma oferta mais atractiva. Temos tambĂ©m a expectativa de internacionalizar o modelo, e aĂ­, sem dĂşvida que o primeiro passo seria dado nos paĂ­ses de lĂ­ngua oficial portuguesa: Cabo Verde, Brasil, etc.

Sobre a internacionalização: um dos corolários da acção da ENIDH é a parceria com o Panamá.

CG: Trata-se de um ex-lĂ­bris da ENIDH. Temos 37 alunos do Panamá a estudar na ENIDH e estamos a falar do paĂ­s
que tem maior infra-estrutura marítima portuária do mundo (Canal do Panamá) e do país que o tem maior registo
mundial de navios. Nós, a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, a única instituição de ensino superior público nacional ligado ao sector marítimo portuário, tem a oportunidade de ministrar a formação aos futuros quadros de um país como o Panamá (tão importante no contexto mundial do sector). É algo de altamente apelativo e acho que devíamos capitalizar mais essa realidade. Tratou-se de um passo com um peso e uma relevância significativa, tal como tem relevância a escolha de Portugal.

Como acham que deveria ter sido capitalizada essa parceria?

CG: NĂłs nunca conseguimos capitalizar isso. Agora perguntam-me como fazĂŞ-lo e nĂłs tambĂ©m gostarĂ­amos de saber. É um desafio…mas acho que o facto de os futuros quadros da Autoridade do Canal do Panamá serem formados na Escola Náutica Ă© quase como no caso da MSC Ă© algo especial. Depois hĂŁo-de voltar e hĂŁo-de trabalhar em Portugal. Curiosamente as empresas portuguesas tĂŞm sido receptivas. O Grupo ETE foi logo o primeiro: arranjou
logo estágios. Mas nunca capitalizámos como deverĂ­amos em termos de imagem. Em Angola atĂ© pode ser igual, mas o Panamá nĂŁo Ă© Angola. O Panamá tem caracterĂ­sticas Ăşnicas e ter feito esta escolha Ă© incrĂ­vel, apesar de ser uma escolha com influĂŞncias polĂ­ticas. Pela primeira vez este ano teremos os panamianos a fazer a academia. Por outro lado, no Panamá a MSC Ă© muito forte. E lá, nĂŁo sĂł como operador marĂ­timo como enquanto operador portuário, estĂŁo com investimento grande associado Ă  expansĂŁo do Canal do Panamá. Acho que seria interessante ter formadores do Panamá – os nossos alunos terem a oportunidade de estagiarem no Panamá, quer na MSC do Panamá quer no canal. Para nĂłs, ter alunos nestas condições, era uma boa opção.

* Esta entrevista integra a edição Julho/Agosto de 2018 da edição impressa da REVISTA CARGO.

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